Desisti de receber partes de você quando já me tinha dado um todo...

Quando eu fechei a porta do seu carro e caminhei em direção a casa não resisti em olhar para trás, com o friozinho no estômago de que sabe que é a última vez e a esperança que talvez não o seja. Você ainda estava lá, ainda não tinha ido embora, ficou a espera que que abrisse a porta e que entrasse em casa, como tantas vezes ficou. Sempre admirei isso em você, o cuidado de confirmar que eu realmente estava entregue, em segurança. Sei que faz isso com todas as pessoas que gosta, faz parte das pequenas coisas que conheço de você e que me encantaram da primeira vez até a última.

           

Saberá, com certeza, que sempre desejei e esperei que você se arrependesse, que voltasse atrás na tua decisão e que iria me procurar pra tentarmos outra vez. Foi sempre com esse desejo e essa esperança que me despedi de você desde que deixamos de esta e, foi com esse mesmo desejo e essa mesma esperança que decidi desatar todos os laços que nos mantinham juntos quando achei que não aguentava mais viver à espera de uma oportunidade que não sabia se viria. Você não me prometia nada e o nada em que nos tornamos, dia após dia, tornou-se demasiado mesmo para mim, que nunca soube desistir. Desisti de receber partes de você quando já me tinha dado um todo, mas gostava que soubesse que eu nunca desisti realmente de acreditar num futuro onde estivesses presente.

Há muito tempo que penso em você, mas acho que isso, você não sabe. Ou porque não quer saber, ou porque não deixei que me conhecesse a esse ponto. Nem eu própria, com toda a certeza que tenho que ainda gosto de você, posso atrever-me a dizer que te conheço. De fato, nós pouco nos conhecemos. E eu nunca consegui perceber se isso é bom ou mau, se foi isso que nos prejudicou ou se  foi isso que permitiu que houvesse algo para recordar. Você disse que temos maneiras muito diferentes de ver as coisas, eu só posso dizer que eu não faço a minima ideia se concordo ou discordo de você. Eu não sei o que temos, tão pouco sei o que tem em mim que me faz ficar tão presa à ideia de você. Convenci-me tanto que tinha acertado contigo que de repente me esqueci que não se agarra chuva com as mãos e tentei te agarrar da maneira errada. Por mais que eu saiba e defenda que não se pode amarrar ninguém sem ser pelo coração, cometi o erro de me impor na tua vida e disso me arrependo. Não se pode obrigar alguém a ver em nós aquilo que queremos ser.

Gostava de te mostrar aquilo que você nunca conheceu em mim, mas sobretudo gostava que deixasse de olhar pra mim como um arrependimento. É duro pensar que acha que fui uma pedra no teu sapato quando tudo o que queria era que continuasse a ser o melhor bom dia e a minha última boa noite. Em mim, você despertou tudo. O lado mais feliz, mais sereno, mais confiante. E o lado mau, cheio de medos e inseguranças. Infelizmente, deixei de ver o meu lado bom e passei a interpretar tudo que fez da maneira mais triste, mas há coisas que nem mesmo eu consigo mudar sozinha e você não ajudou. Não te culpo por isso, só lamento não ter sido capaz de te fazer ficar quando quis ir embora.

O tempo é sempre ingrato nessas coisas dos relacionamentos, nos ajuda sempre ver com mais clareza as situações, com uma clareza que as vezes gostava de não ter. Se é verdade que estou infinitamente mais calma e mais serena, não é menos verdade que continuo a gostar de você e desejar que dê meia volta e me apareça a frente. Mas talvez você tenha encontrado outro caminho, mais feliz e mais adequado a você, e o melhor seja mesmo deixar tudo como ficou. Já há muito tempo que a prendi que não vale a pena correr atrás de quem não está pronto pra embarcar conosco, por isso jamais te chamarei de volta ao passado.